Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs

Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

FELIZ NATAL!


Pietro Cavallini, O nascimento de Cristo, mosaico, Basílica de Santa Maria em Trastevere, Roma.




CARTÃO DE NATAL

Pois que reinaugurando essa criança
pensam os homens
reinaugurar a sua vida
e começar novo caderno,
fresco como o pão do dia;
pois que nestes dias a aventura
parece em ponto de vôo, e parece
que vão enfim poder
explodir suas sementes:

que desta vez não perca esse caderno
sua atração núbil para o dente;
que o entusiasmo conserve vivas
suas molas,
e possa enfim o ferro
comer a ferrugem,
o sim comer o não.

João Cabral de Melo Neto, Poesia Completa - 1940-1980, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1986.



terça-feira, 18 de dezembro de 2018

POESIA DE LUÍSA CORDEIRO (36)


“Espera”
 

No chão,

as folhas douradas

contrastam com as meadas

do cabelo cinza e branco.

O corpo sente o cansaço,

os olhos

olhando o espaço,

deleitam-se no encanto

do azul a perder de vista.

Lembra então

o coração,

que, o tapete outonal

vai passando

e dá lugar

ao verde fresco

da esperança

da tão esperada primavera,

e, na esperança,

essa espera…

a sua Alma

conquista.

 

Luísa Cordeiro

(13.12.2018)


 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

PERGUNTAS COM HISTÓRIA


Tebas, Grécia.




UM TRABALHADOR, AO LER, PERGUNTA...


Quem construiu a heptápila Tebas?
Nos livros há só nomes de reis.
Foram os reis quem transportou as pedras?
E a tantas vezes destruída Babilónia –
Quem tantas vezes a reconstruiu? E em que casas
De Lima, a cintilante de ouro, os construtores moraram?
Para onde foram, na tarde em que acabaram a Muralha da China,
Os alvanéis? A grande Roma
Está cheia de arcos triunfais. Quem os ergueu? E sobre quem
Triunfaram os Césares? Tinha a celebrada Bizâncio
Só palácios para os habitantes? Até na Atlântida fantástica
Gritava, na noite em que o mar a engolia,
Quem se afogava, pelos seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Índias.
Sozinho?
César bateu as Gálias.
Não tinha com ele sequer um cozinheiro?
Filipe de Espanha chorou, quando a Armada
Foi ao fundo. Mais ninguém chorou?
Frederico II ganhou a Guerra dos Sete Anos. Quem a ganhou para ele?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhou o banquete triunfal?
Cada dez anos um grande Homem.
Quem pagou a conta?

Tantas histórias.
Outras tantas perguntas.

Bertolt Brecht, «Um trabalhador, ao ler, pergunta...», in Poesia do século XX, Antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena, Porto, ASA, 2001, p. 115



sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

EXPOSIÇÃO NA BE (40)


Exposição inédita, em português e inglês, composta por vinte e dois painéis. Foi cedida à Escola pela Fundação José Saramago e pode ser visitada na Biblioteca da Escola (BE).

FEIO - III FESTA DE ESCRITAS, IMPROVISOS E ORALIDADES

O PROFESSOR


Fotografia de Robert Doisneau.





O professor que pensa que o que importa
é estar de cátedra ganhando a vida,
sem estudar mais, deixando que em si morra
a controvérsia que ao pensar acende,
não é senão mesquinho traficante
que a obra dos outros a retalho vende.


Kalidasa, «O professor que pensa que o que importa»,  in Poesia de 26 Séculos – De Arquíloco a Nietzsche, antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena“Cinquenta poemas sânscritos, Índia Clássica, séc.IV-séc.X”, Porto, ASA Editores II, S.A., 2001, p.56.




POESIA VISUAL IV




Inspirado em George Orwell - Oleksandr Kobelyuk, Aluno do 12º CT7 desta Escola.



quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

DO NOME XVI


Cassiopeia, no céu.
Imagens daqui.




OS NOMES

Duas vezes se morre:
Primeiro na carne, depois no nome.
A carne desaparece, o nome persiste mas
Esvaziando-se de seu casto conteúdo
- Tantos gestos, palavras, silêncios -
Até que um dia sentimos,
Com uma pancada de espanto (ou de remorso ?)
Que o nome querido já nos soa como os outros.

Santinha nunca foi para mim o diminutivo de Santa.
Nem Santa nunca foi para mim a mulher sem pecado.
Santinha eram dois olhos míopes, quatro incisivos claros à flor da boca.
Era a intuição rápida, o medo de tudo, um certo modo de dizer «Meu Deus, 
                                                                                                       valei-me ».

Adelaide não foi para mim Adelaide somente
Mas Cabeleira de Berenice, Inominata, Cassiopeia.
Adelaide hoje apenas substantivo próprio feminino.

Os epitáfios também se apagam, bem sei.
Mais lentamente, porém, do que as reminiscências
Na carne, menos inviolável do que a pedra dos túmulos.

                                                                                              Petrópolis, 28-2-1953

Manuel Bandeira, Poesia Completa e Prosa, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar S.A., 1990. pp.306-307



POESIA DE LUÍSA CORDEIRO (35)

 

Balada” 

…E as palavras surgem

num íntimo torpor,

o pensamento foge

do que lhe causa dor

…E as palavras…

sempre as palavras…

as  palavras emergem

numa balada interior…

Hum…hum…hum...hum…

Hum…hum…hum…hum…

Ié,ié, ié………ié, ié, ié,ié, ié, iééééa……

Numa guitarra mágica,

que aconchego a mim,

dedilho as palavras

na música sem fim

e os meus versos mudos

que passo pr’a o papel,

reflectem a imagem

inteira e fiel

de quem sou…..

Ié, ié, ié, ié………ié, ié, ié, ié………

Uou, uou, uou, uou……. Uou, uou, uou, uou…….

Uou, uou, uou, uou…….uou…uou…uou…uou!!!


Luísa Cordeiro

(28.11.2018)

 

 

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

O SONHO


Deserto do Namibe e margens do Oceano Atlântico.
Imagem daqui.



Na beira do deserto me encontrei, acordada, com o sol alto, e a pensar no que faria - 12 meses do ano perdidos, creio eu, num país sem mapas nem bússolas para sinalizar. Ali estava à espera da lâmpada de Aladino. Talvez houvesse solução, o que eu não sabia é que não era real. Logo ali vi um espelho; um espelho no deserto? Não faria grandes magias com ele, mas logo me aproximei e vi o que pensei ser uma ilusão.

Num sobressalto, acordei. Estava na praia e ali fiquei. Continuei a escrever os sonhos que criei.

Inês Lourenço, Aluna do 12º LH4 desta Escola.



quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

UM PASSEIO SONORO NA LISBOA DE FERNANDO PESSOA






"«Não sei o que o amanhã trará - um passeio sonoro na Lisboa de Fernando Pessoa» é uma série documental sobre a vida e obra de Fernando Pessoa.
Esta viagem sonora de 15 episódios pode ser feita de duas formas. Através de um percurso geográfico que inclui 15 locais na cidade de Lisboa, cada um correspondente a um episódio. Ou através de uma viagem imaginária fora do percurso sugerido. Imagine-se na Lisboa pessoana e ouça onde quiser."





segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

ENCONTRO COM O ESCRITOR ISAAC JALÓ


4 de dezembro de 2018 10h15 - 11h45 auditório grande 
Escola Secundária José Saramago - Mafra

PALAVRA DO ANO 2018




Votação até ao dia 31 de dezembro de 2018.




sexta-feira, 30 de novembro de 2018

DA CONCISÃO CII


Imagem daqui.



A água na taça é transparente; a água no mar é escura.
A pequena verdade tem palavras claras; a grande verdade tem silêncio grande.

Rabindranath Tagore, A Asa e a Luz, Lisboa, Assírio & Alvim, 2016, p. 63.




quinta-feira, 29 de novembro de 2018

POESIA DE LUÍSA CORDEIRO (34)


“Sede”


Eu vi um homem

encostado a uma parede

e tinha sede.

Um outro,

lhe estendeu uma garrafa de água

que ele jorrou

para a sua garganta.

E eu vi a sede daquele homem…

a garganta seca como um deserto

que recebeu a tão desejada água

de alguém que ali passou por perto.

Eu vi a sede…

Eu continuo a ver a Sede

nos caminhos secos dos migrantes

ao sol tórrido,

ao vento frio e seco

que nem a chuva abranda.

Eu vejo a sede nas lágrimas das crianças,

eu vejo a sede

nos rostos vincados das suas mães.

Eu vejo a Sede dos Homens,

Sede de Justiça,

Sede de Paz,

Sede de um lar,

da família

que passou a fronteira

e eles ficaram para trás.

 

Eu vejo a sede….

a sede da velhice nos pés cansados

e gretados do caminho,

à fuga de um destino,

A Sede de uma vida inteira

que um homem carrega sozinho.

Eu vejo a Sede

mitigada pela Esperança

de voltarem a ter

o doce acolhimento

do seu próprio ninho.

Eu vi a sede na garganta daquele homem,

A Sede daqueles que sofrem

E se consomem…

Eu vejo a sede

daqueles que rodeados de água

à guerra fogem.

Eu vejo a Sede da Humanidade

Eu vejo a Sede

daqueles que de tantas sedes

à Sede morrem!
 

Luísa Cordeiro

(27.11.2018)