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Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

sexta-feira, 29 de julho de 2016

O POETA É BELO


Fotografia de Amal Mongia. Daqui.




"O POETA É BELO

O poeta é belo como o Taj-Mahal
feito de renda e mármore e serenidade

O poeta é belo como o imprevisto perfil de uma árvore
ao primeiro relâmpago da tempestade

O poeta é belo porque os seus farrapos
são do tecido da eternidade."

Mário Quintana, Poesia Completa, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 2005, p. 488.



quinta-feira, 28 de julho de 2016

TECENDO A MANHÃ...

Imagem daqui.




"TECENDO A MANHÃ

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

2.
E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão."

João Cabral de Melo Neto, Poesia Completa - 1940-1980, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1986, p. 137.



quarta-feira, 27 de julho de 2016

PERFUME II


Imagem daqui.



"(...) o poema não é a expressão do que se viveu ou experimentou. Se eu sinto um cheiro de jasmim na noite e escrevo um poema sobre esse fato, o que faço não é expressar tal experiência, mas, na verdade, usá-la como impulso para inventar uma coisa que não existia antes: o poema, o qual se somará a todas as galáxias, planetas, cometas, oceanos e tudo o mais que exista no universo. E o  universo será, a partir de então, tudo o que já era mais aquele pequeno agregado de palavras, nascido de um perfume."

Ferreira Gullar, "E o cronista endoidou...", in Poesia Completa, Teatro e Prosa, Rio de Janeiro, Editora Nova Aguilar, 2008, p. 985.



terça-feira, 26 de julho de 2016

CORRESPONDÊNCIAS


Imagem daqui.



A Natureza é um templo onde vivos pilares
Pronunciam por vezes palavras ambíguas;
O homem passa por ela entre bosques de símbolos
Que o vão observando em íntimos olhares.

Em prolongados ecos, confusos, ao longe,
Numa só tenebrosa e profunda unidade,
Tão vasta como a noite e como a claridade,
Correspondem-se as cores, os aromas, os sons.

Há perfumes tão frescos como a jovem carne,
Doces como oboés e verdes como prados,
- E há outros triunfantes, ricos, corrompidos,

Que se expandem no ar como coisas sem fim,
Como o âmbar, o almíscar, o incenso, o benjoim,
E cantam os arroubos da alma e dos sentidos.

Charles Baudelaire, "Correspondances", in Les Fleurs du Mal, citado em Um Cânone Literário para a Europa, organização de Helena Carvalhão Buescu et al., Vila Nova de Famalicão, Edições Húmus, 2012, p. 136.



segunda-feira, 25 de julho de 2016

OS TRABALHOS E OS DIAS

Calendário Rústico 
Saint-Romain-en-Gal, Viena, França
Imagem daqui.



"(...) O melhor de todos é aquele que pensa por si,
compreendendo o que em seguida e no fim será melhor;
bom é também aquele que obedece a quem bem o aconselha;
mas quem não sabe pensar por si nem, ao escutar outrem,
o guarda no coração, esse é, pelo contrário, um homem inútil.
Mas tu, lembrado sempre das minhas recomendações,
trabalha, Perses, estirpe divina, para que a Fome
te odeie e para que te estime a venerável Deméter
de formosa coroa e te encha de víveres a casa.
Pois a Fome sempre acompanha o homem preguiçoso.
Deuses e homens indignam-se contra quem no ócio
vive, semelhante na índole aos zangões sem ferrão
que o labor das abelhas devoram e, sem trabalhar,
comem; preocupa-te pôr em ordem os trabalhos adequados,
para que, na estação própria, de trigo se encham os celeiros.
Graças ao trabalho, os homens são ricos em rebanhos e bens;
e pelo trabalho serás muito mais estimado pelos imortais
(e pelos mortais, porque eles muito detestam os ociosos).
Trabalho não é vergonha, é o ócio que traz vergonha.
Se trabalhares, em breve te inveja o homem ocioso,
porque enriqueces; à riqueza, seguem-na o mérito e a glória.
Na situação em que te encontras, trabalhar é melhor para ti,
se desvias das riquezas alheias o ânimo volúvel
e, dando-te ao trabalho, cuidas da subsistência, como te aconselho.
A vergonha que acompanha o homem necessitado não é boa,
a vergonha que os homens muito prejudica ou favorece;
a vergonha anda ligada à miséria, a confiança à prosperidade."

Hesíodo, Teogonia/ Os Trabalhos e os Dias, Lisboa, Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 2005, p. 104.



sexta-feira, 22 de julho de 2016

DA SAUDADE XX


Fotografia de Jean-Baptiste Feldmann. Daqui.



A SAUDADE

Revérbero de sentimentos depois
do seu imo de movimento.
Antes, ao perpassarem
na difusa emoção.
Vêm reviver em outrem
o seu fim e o seu som.

Fiama Hasse Pais Brandão, Obra Breve, Lisboa, Assírio & Alvim, 2006, p. 538.


segunda-feira, 18 de julho de 2016

DA CONCISÃO LXXVII


Imagem daqui.



"- como respiram os olhos a luz das cores que criam?"

E. M. de Melo e Castro, "Há ainda 17 perguntas que talvez valha a pena fazer", in Antologia Efémera, Rio de Janeiro, Lacerda Editores, 2000, p. 170.



segunda-feira, 11 de julho de 2016

FUTEBOL


Beau-Jeu.
Imagem daqui.



«O repórter oficial (da televisão que foi ao Aeroporto de Lisboa noticiar a chegada dos jogadores vindos do Campeonato Mundial) tratava-os  de "adeptos", como se fizessem parte de uma seita, ou fossem uma seita. E eram. E são. As ideologias duras morreram, as religiões institucionais dissolveram-se, mas a "crença", como culto identitário, resiste a todos os desmentidos da História, da Vida, mesmo aos do jogo como vida. Aqueles adeptos não eram os "inchas" espanhóis, nem os "tiffosi" italianos, apoiantes clássicos de clubes. Estavam lá como "adeptos" de Portugal, do Portugal como objecto de crença, última referência tribal que resiste à globalização sem sujeito da cultura ocidental.»

Eduardo Lourenço, "Os Adeptos", in Visão, 20/06/2002, p. 170, apud Henrique M. Lages Ribeiro, Dicionário de Termos e Citações de Interesse Político e Estratégico - Contributo, Lisboa, Gradiva, 2008, p. 142.



terça-feira, 5 de julho de 2016

SHAKESPEARE - CICLO DE FILMES

Imagem daqui.


Na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II,
de 8 a 16 de julho de 2016.
Entrada livre.



DA CONCISÃO LXXVI


Imagem daqui.


7. PERMANÊNCIA

Cantam em provençal os pássaros de Maio
Mas em grego e latim as cigarras de Julho

David Mourão-Ferreira, Obra Poética, 1948-1988, Lisboa, Editorial Presença, 2006, p. 283.