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Antigo blogue do projeto novasoportunidades@biblioteca.esjs, patrocinado pela Fundação Calouste Gulbenkian
Escola Secundária José Saramago - Mafra

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

ESCOLA



Fotografias do Professor Martinho Rangel

XADREZ E DIPLOMACIA


Imagem daqui.




"Ibne Amar encontrava-se numa situação análoga à de Jáfar ibne Iáhia (Barmeki) junto de (Hárune) Arraxide. Almutâmide acreditava nele nos assuntos mais importantes e julgava-o digno dos postos mais elevados. Por outro lado, Ibne Amar resolvia com acerto todos os assuntos que lhe earm encomendados e marcava-os com o seu selo como o ferro rubro ao fogo. Era bem conhecido em toda a Espanha. Até o rei cristão Afonso (VI), quando se pronunciava diante dele o nome de Ibne Amar, afirmava que era o homem mais excelente da Península. De feito, conseguiu impedir que tal príncipe conquistasse as cidades de Sevilha e Córdova e os seus territórios.

Desejoso de apoderar-se dos estados de Almutâmide, Afonso avançava à cabeça de um importante exército. O coração dos muçulmanos estava cheio de terror porque se sabiam demasiado fracos para poderem resistir. Então Ibne Amar recorreu à astúcia e empregou o estratagema mais engenhoso.

Mandou fazer um jogo de xadrez, magnífico tanto do ponto de vista da arte como da finura do seu acabamento, de tal modo que nenhum rei possuía outro igual. As peças eram de ébano, de aloés, e de sândalo com incrustações de ouro. E o tabuleiro era também uma maravilha de precisão. Provido deste xadrez e na qualidade de enviado de Almutâmide, apresentou-se a Afonso que encontrou à entrada do território muçulmano. O rei cristão recebeu-o da maneira mais honrosa e ordenou aos cortesãos que frequentassem a tenda do estrangeiro e velassem por que nada lhe faltasse. Um dia Ibne Amar ensinou xadrez a um dos cortesãos de Afonso, o qual falou dele ao seu senhor, grande jogador de xadrez.

Quando o príncipe recebeu a visita de Ibne Amar perguntou-lhe se era forte em tal jogo ao que o seu interlocutor respondeu afirmativamente. E era realmente um xadrezista de primeira qualidade.
        - Disseram-me - replicou o príncipe - que tens um xadrez magnífico.
        - É verdade.
        - Como poderei vê-lo?
        - Vou trazer-to - mandou responder Ibne Amar pelo seu intérprete - mas na condição de jogarmos ambos uma partida. Se ganhares, o jogo será teu; se perderes, poderei pedir-te o que quiser.
        - Trá-lo para eu o ver - disse Afonso.
O vizir mandou-o buscar e apresentou-o ao cristão que exclamou persignando-se:
        - Nunca imaginei que um jogo de xadrez pudesse estar tão bem feito. - E acrescentou voltando-se para Ibne Amar:
        - O que é que dizias?
O muçulmano repetiu as condições que propusera.
        - Não - disse Afonso -, não posso jogar. Não sei o que queres pedir-me, talvez uma coisa que não te possa dar.
        - Não jogarei noutras condições - respondeu Ibne Amr. E mandou embrulhar de novo o xadrez e levá-lo para a sua tenda.

O vizir revelou, porém, a alguns cortesãos cristãos, sob promessa de segredo, o que exigiria a Afonso no caso de ganhar a partida. E obteve a sua ajuda mediante somas importantes.

Como a recordação do xadrez obsessionava o príncipe, consultou os seus favoritos sobre as condições que Ibne Amar queria impor-lhe.
        - É coisa pouca - responderam. - Se ganhares, terás o xadrez mais formoso que um rei pode possuir. Se perderes, que pode pedir um adversário teu que um rei como tu não possa cumprir? E se exigir uma coisa impossível, não estamos nós prontos a pormo-nos do teu lado para o fazer entrar na razão?
Insistiram com tanto êxito que Afonso mandou vir Ibne Amar com o seu xadrez e disse-lhe que aceitava as suas condições.

O vizir pediu então que se chamassem alguns nobres que designou como testemunhas. Afonso mandou-os vir e começou a partida. Mas, dissemo-lo já, Ibne Amar era um tal jogador que ninguém lhe podia ganhar no Andaluz. E ante os olhos dos cortesãos bateu completamente o seu adversário. Quando o resultado da partida não ofereceu dúvidas, Ibne Amar disse:
        - Ganhei o que tínhamos combinado?
        - Sem dúvida. O que pedes?
        - Que saias desta terra e entres na tua.
Afonso empalideceu, sentiu-se preso de uma grande agitação e entre outras coisas disse aos seus favoritos:
        - Aqui está o que eu temia. E vós a tranquilizar-me...
Por um instante perguntou-se a si mesmo se cumpriria a sua palavra e não continuaria a campanha, mas as pessoas do seu séquito fizeram-lhe ver a vergonha que seria o maior rei cristão da época atraiçoar a sua promessa. E insistiram com tanto acerto que acabou por se acalmar. Exigiu, no entanto, que naquele ano pagassem o dobro do tributo ordinário. Ibne Amar aceitou e mandou entregar a soma pedida a fim de conseguir a retirada imediata de Afonso. Graças à prudente e hábil conduta do vizir, Alá soube colocar assim os muçulmanos ao abrigo da violência dos cristãos. E Ibne Amar voltou a Sevilha para junto do seu senhor a quem achou encantado por tão feliz sucesso."

António Borges Coelho, Portugal na Espanha Árabe, vol. 2: História, Lisboa, Editorial Caminho, 1989, pp. 225-226.



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

AO DESCONCERTO DO MUNDO

Andries Pauwels, Busto de Camões (séc. XVII).
Imagem daqui.




Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.

Luís de Camões, Lírica, fixação de texto de Hernâni Cidade, ilustrações de Lima de Freitas, vol. III, Círculo de Leitores, s/d, p. 115.



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

2º ENCONTRO DE LITERATURA INFANTO-JUVENIL DA LUSOFONIA



Imagem e todas as informações aqui.



A iniciativa decorrerá nas instalações da Fundação "O Século", em São Pedro do Estoril, de 25 a 27 de fevereiro de 2016, entre as 10h00 e as 18h00.




RIMAS DE PETRARCA

Francesco Petrarca (1304-1374).
Imagem daqui.



Só, pensativo, o ermo descampado
vou medindo com passo tardo e lento,
e olhos desvio a evitar atento
vestígio humano no areal marcado.

Outro escudo não tenho contra olhado
da gente em manifesto entendimento;
pois na extinta alegria em que me alento
se lê por fora o meu dentro inflamado;

e montes, prados, creio, e a folhagem
da selva e rios, sabem qual a têmpr'a
da vida que eu aos outros não revele.

Porém áspera via ou tão selvagem,
não sei buscar que Amor não venha sempre a
discorrer já comigo e eu com ele.

Francesco Petrarca, As Rimas de Petrarca, edição bilingue, tradução de Vasco Graça Moura, Lisboa, Bertrand, 2003, p. 133.



terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

FAIRY-TALE AND STORYTELLING THERAPY


Imagem e informações detalhadas, incluindo programa, aqui.


HOMENAGEM A CAMÕES


Ilustrações de Lima de Freitas.




HOMENAGEM A CAMÕES

Através do imitado sentimento,
Ao ler-te, quanta vez tenho sentido
Como é muito maior o amor vivido
Em acto não, mas só em pensamento.

Então invento o que amo e amo o que invento,
Em coisas sem razão tão comovido
Que o ar me falta e o respiro comprimido
Não sei se dá, não sei se tira o alento.

Sabor de amor é esse alto respirar,
Essa angústia em suspiros mal dispersos.
Em amor, que importância tem o ar,

O ar, cheio de fantásticas acções!
Assim, aquele que imitar teus versos,
Primeiro imite o teu amor, Camões.

Dante Milano (1899-1991)

José Valle de Figueiredo, Antologia da Poesia Brasileira, Lisboa, Editorial Verbo, s/d, p. 175.



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

JUDAICA 2016


Uma Turma Difícil, longa-metragem de Marie-Castille Mention-Shaar (2014).
Imagens e programa aqui.



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

2016 - DIA DOS NAMORADOS X


Imagem daqui.



O Amor é como as ondas:
Vêm e logo vão.
Assemelha-se, ao anunciar-se, a um Mar de Rosas,
Mas, quando acaba, parece que tudo foi em vão.

Alexandre Jesus e Bernardo Santos, Alunos do 10º CT4 desta Escola.


2016 - DIA DOS NAMORADOS IX


Imagem daqui.



Acorda de madrugada
Antes do sol levantar
Sai depressa, sem pequeno-almoço tomar.
Tropeça nas pedras da rua
Corre a toda a velocidade,
Esperando não se atrasar.
Chega ofegante, percebendo que o perdera.

Chega ofegando, percebendo que já partira,
Gritando, ainda, espera que a ouça,
Gritando, do topo dos seus pulmões,
Esperando ser ouvida,
Esperando não o perder...

Líbian Carvalho e Ludmila Araújo, Alunas do 10º CT4 desta Escola.


2016 - DIA DOS NAMORADOS VIII


Jean-François Millet (1814-1875), Bouquet de Marguerites (1866).
Imagem daqui.



Namorada é apenas uma palavra...
Quando se isola "amor"
Resta um desesperançado "nada"...

Amor é sinónimo de paixão.
Amar alguém de verdade
Impossibilita pensar em traição.

Irina Pedroso e Ricardo Figueiredo, Alunos do 10º CT5 desta Escola.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

2016 - DIA DOS NAMORADOS VII


Johannes Vermeer (1632-1675), La femme à la balance (1664).
Imagem daqui.



O amor é contraditório,
mas para mim não o é.
Muitos dizem saber amar;
afinal o que isso é?

Será sensação, sentimento?
Porquê tanto contentamento
se tudo, inevitavelmente,
acabará em sofrimento?

Para mim é dedicação,
por vezes traz a alegria
e muitas vezes desilusão.
Não passa de uma fantasia.

Será que parte o coração?
Será que faz parte da vida?
Mas nada causaria admiração
se a paixão não fosse sentida.

Ana Margarida Simões e Cláudia Rodrigues, Alunas do 10º CT5 desta Escola.



quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

2016 - DIA DOS NAMORADOS VI


Camille Corot (1796-1875), Solitude, Souvenir du Vigen (1866).
Imagem daqui.



Pequenos grandes defeitos
ele me impediu de ver
foram esses ditos feitos
que me fizeram sofrer.

Foi ele um grande pecado
razão do coração desolado
terá sido o meu castigo
por querer amor correspondido.

Há muito que me enganava
com seu traiçoeiro amor
e eu tão só, perdida estava
que não sentia a imensa dor.

Por muito me levou a passar
grande mal me fez sentir
mas depois do afeto acabar
tudo isso deixou de existir.

Aos poucos o meu coração
lentamente começa a sarar
depois de partido num milhão
sua grande forma está a voltar.

Saúde começa a recobrar
e eu talvez volte a amar
mas até poder lá chegar
algum tempo vai passar.

Marta Bastos e Marta Rebelo, Alunas do 10º CT5 desta Escola.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

2016 - DIA DOS NAMORADOS V

Imagem daqui.




Por longos caminhos andei,
muita formosura encontrei;
recordo-me só de uma beleza:
apenas da tua, minha princesa.

Provoca-me uma imensa dor
o estar longe, afastado de ti.
Desde o dia em que te vi
Dei-te sempre o meu amor.

Gonçalo Costa, Aluno do 10º CT4 desta Escola.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

2016 - DIA DOS NAMORADOS IV


Pierre-Auguste Renoir (1841-1919), Les Amoureux (1875).
Imagem daqui.



O amor é somente uma palavra,
Mas quão amiúde é filosofada!
Saber amar já é diferente,
tanto que não vem da mente.

Não vem do pensamento, mas da sensação,
diz-se muito que se ama com o coração,
eu amo-te com tudo o que tenho e não tenho.
Amar é, de facto, muito estranho.

Elisabete Domingos e Simone Roca, Alunas do 10º CT4 desta Escola.



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

A EROS

William-Adolphe Bouguereau (1825-1905), L'Amour (1891).
Imagem daqui.



A EROS


É uma criança,
e não é difícil
que a identifiquem:
entre mais de vinte,
é reconhecível...
Sua pele não é
nem branca nem mate,
mas da cor do fogo…
Tem olhos brilhantes
e vivos, de chama!
Espírito de mal,
palavras de mel,
em nada acredita
de quanto proclama.
Mais doce que os doces
tem o som da voz:
contudo, é de fel
aquilo que manda…
E, sempre a mentir,
em jogos cruéis
passa o tempo todo…
Ou, então, em festas:
cabelos em ondas
(melhor: aos anéis)
e um tufo atrevido
no alto da testa…
Tem pulsos pequenos,
que ferem ao longe
- às vezes, até
no reino dos mortos…
O corpo desnudo,
a alma velada,
parece uma ave,
pois também tem asas…
Para as raparigas
e para os rapazes
chega a ser terrível,
se em seus corações
elege, de acaso,
o alvo pràs setas
que traz na aljava…

Mosco, século II a. C.

Mosco, “A Eros”, in “Vozes da Poesia Europeia – I”, traduções de David Mourão-Ferreira, Colóquio-Letras, número 163, janeiro-abril de 2003, pp. 68-69.


2016 - DIA DOS NAMORADOS III

John William Godward (1861-1922), Absence Makes the Heart Grow Fonder (1912).




Sentia-me bem contigo
e assim acreditei
mais tarde tinha percebido
que havia perdido todo o amor que te dei

Sentia-me confusa
e mesmo assim te amei
afinal era uma intrusa
no teu coração nunca entrei

Sentia-me desanimada
o meu coração conformei
nem sempre fui amada
como sempre sonhei

E mesmo assim te amei...

Mariana Cascais, Marta Farinha Ferreira e Susana Reis, Alunas do 10º CT5 desta Escola.



2016 - DIA DOS NAMORADOS II


Edmund Blair Leighton (1853-1922), On the Threshold (of a Proposal) (1900).
Imagem daqui.



Sem mim ela tem tudo
Sem ela não sou nada
Pensei que fosse amor
Mas apercebi-me que amor é só uma palavra

Não percebo
Quando te vejo fico assustado
Não por ter medo de ti
Mas porque não gosto de estar afastado

Amor, que palavra engraçada
Nunca houve, nunca haverá outra igual
Porque eu sinto-a, sem a poder definir
Mas sei explicar o porquê de te não poder esquecer...

Miguel Jacinto, Aluno do 10º CT5 desta Escola.



2016 - DIA DOS NAMORADOS I

Gustav Klimt (1862-1918), O Beijo (1907-1908).
Imagem daqui.



O amor é sentimento,
ele vem do coração;
altera o comportamento
e dá-me motivação.

O amor é sentimento,
arrasta consigo a paixão;
o gesto forma-se lento,
pois nasce do coração.

O amor é sentimento
sei que não implica traição.
Espero que o sofrimento
seja apenas uma ilusão.

O amor é sentimento,
leva-me à reflexão.
Desejo que este tormento
não me ataque o coração.


Carlos Santos e José Jorge, Alunos do 10º CT5 desta Escola.


14 de fevereiro - DIA DOS NAMORADOS

Jean-Honoré Fragonard, (1732-1806), Le Colin-Maillard (1754-1756).
Imagem daqui.



“TER OU NÃO TER NAMORADO

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, (...) lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia. Paquera, gabiru, flerte, caso, (...) envolvimento, até paixão é fácil. Mas namorado de verdade é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio, e quase desmaia, a pedir proteção. Esta não precisa ser parruda ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado não é quem não tem amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento, dois amantes e um esposo; mesmo assim pode não ter nenhum namorado. Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche da padaria ou drible no trabalho. (...) Não tem namorado quem faz pactos de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade, ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de curar. Não tem namorado quem não sabe dar o valor de andar de mãos dadas; de carinho safadinho, escondido no escuro do cinema cheio, da flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes ou Chico Buarque, lida bem devagar, de dar gargalhada quando se fala ao mesmo tempo ou descobre a meia rasgada, de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia, ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo, tapete mágico ou foguete interplanetário. (...) Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele; abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e vai com ela a parques, fliperamas, beira d’água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou filmes de Woody Allen. Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não se chateia com o fato de seu bem ser paquerado. (...) Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou no meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar, quem namora sem brincar, quem vive cheio de obrigações; (...) Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado é porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando 200 kg de grilos e de medos. Ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesma e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela. Ponha intenção de queimar-se em seu próprio fogo e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteio. Se você não tem namorado é porque não enlouqueceu aquele pouquinho necessário para fazer a vida parar e, de repente, parecer que faz sentido. «Enlou-cresça».”

Artur da Távola (1936-2008)

Joaquim Ferreira dos Santos (org.), As cem melhores crônicas brasileiras, Rio de Janeiro, Objetiva, 2007, pp. 244-245.

COM PALAVRAS VIII






A BÍBLIA MEDIEVAL - DO ROMÂNICO AO GÓTICO (sécs. XII-XIII)

Bíblia, Ordem de Cister, Mosteiro de Santa Maria (Alcobaça), fl. 1, (1201-1250), (BNP ALC. 458).
Imagem e informações detalhadas aqui.



Exposição patente na Biblioteca Nacional, de 16 de fevereiro a 21 de maio de 2016.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

DA CONCISÃO LXX

Caspar David Friedrich (1774-1840), Viajante Sobre o Mar de Névoa (1818)
Imagem daqui.



"A névoa é o perdão do sol ás coisas imperfeitas."

Castello de Moraes, "Névoa" (provas tipográficas do número 3 da revista Orpheu, que nunca chegou a ser publicado), in AAVV, Orpheu - Edição facsimilada, Lisboa, Edições Tinta-da-china, 2015, p. 225.



terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

DE ENTRUDO A CARNAVAL


Entrudo de Lazarim, concelho de Lamego.
Imagem daqui.


"Entrudo, s. Do lat. introitu-, «acto de entrar, entrada; de um lugar, acesso, avenida; entrada, introdução, começo»; a especialização de sentido para «carnaval» parece ter-se verificado apenas na Hispânia; em 1252: «et per Entruido unum cabritum», Chancelaria de D. Afonso III, I, fl. 1, col. 1; «e nas casas dos homens de Terena paguem eles de suas soldadas ateens entruido de venda de seus vinhos...», Leges, II, p.83; «Por dia dentroydo dam xxj. cordeiros...», Inq., p.309; por via culta recebemos introito; em 1527: «Entra hum Anjo, & a modo de argumento diz o seguinte introito»,  Gil Vicente, Breve Sumário da História de Deus, na Copilaçam, fl. LXI; antes entroito em 1382: «dous misaaes velhos ssem entroidos E sem Responsos e sem Alelujas...», em João Martins da Silva Marques, Sintra - Estudos Históricos - IX."


"Carnaval, s. Do fr. carnaval, que, segundo Bloch-Wartburg, s.v., «XVIe (carneval, une première fois quarnivalle, 1268). Empr. de l'it. carnevale, propr, «mardi-gras», issu, en Toscane, para métathèse, de carnelevare «ôter la viande» (comp. esp. carnestolendas), anc. vicent. carlassare (=carne lasciare, etc.). L'empr. du mot par le fr, est sans doute dû aux somptueuses fêtes de l'époque de la Renaissance (la citation isolée au XIIIe s. provient probabl. de l'influence locale de commerçants toscans)». Em 1542: «... todos estes dias até quinta feira nam ha chancela(ria p)or estas mascaras e carnavall», no Corpo Dipl. Port., V, 42 (C.). Cort., remete ainda para o seguinte exemplo medieval: «In die Natalis Domini unam spatulam... et in die Carni privii, si habuerit V. oves, dabit unum cordarium album», em Inq., p. 477."

José Pedro Machado, Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, Lisboa, Livros Horizonte, segundo volume C-E, p. 413 e 80.


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

CARNAVAL 2016



Assinalando a quadra carnavalesca. Promovendo a leitura.

DEIXA-ME SER FELIZ (XIII)


Cristiana Vicente Martins apresentou o seu livro Deixa-me Ser Feliz.  Estiveram presentes os alunos do 10.º LH2 e a professora Paula Costa.

CARNAVAL

Pieter Brueghel, A luta entre o Carnaval e a Quaresma (1559).
Imagem daqui.



quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

DA SAUDADE XVIII

Retrato de Faium. Daqui.



CANTYGUA SUA, PARTINDO-SE.

Senhora, partem tã tristes
meus olhos por vós, meu bem,
que nunca tam tristes vistes
outros nenhũs por ninguém.

Tam tristes, tam saudosos,
Tam doentes da partyda,
Tam cansados, tã chorosos,
Da morte mays desejosos
Çem myl vezes que da vida.
Partem tam tristes os tristes,
Tam fora de esperar bem
Que nunca tam trystes vistes
Outros nenhũs por ninguém.


João Rodrigues de Castelo-Branco, in Garcia de Resende, Cancioneiro Geral, texto estabelecido, prefaciado e anotado por Álvaro J. da Costa Pimpão e Aida Fernanda Dias, Coimbra, Centro de Estudos Românicos (Instituto de Alta Cultura), 1973, p. 346.



quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

O TEMPO DAS IMAGENS: edições do Centro Português de Serigrafia


Sem título, Sofia Areal, Lisboa: Centro Português de Serigrafia, 2013. (BNP E. 638 R.)
Imagem daqui.


Exposição patente na Biblioteca Nacional, desde o dia 4 de fevereiro até ao dia 30 de abril de 2016.



terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

INVENÇÃO DE ORFEU (excerto)


Orfeu com a lira e rodeado de animais (Museu Bizantino e Cristão - Atenas). Foto de Ricardo André Frantz.
Imagem daqui.




CANTO X - MISSÃO E PROMISSÃO


Não a vaga palavra, corruptela
vã, corrompida folha degradada,
de raiz deformada, abaixo dela,
e de vermes, além, sobre a ramada;

mas, a que é a própria flor arrebatada
pela fúria dos ventos: mas aquela
cujo pólen procura a chama iriada,
- flor de fogo a queimar-se como vela;

mas aquela dos sopros afligida,
mas ardente, mas lava, mas inferno,
mas céu, mas sempre extremos. Esta sim,

esta é que é a flor das flores mais ardida,
esta veio do início para o eterno,
para a árvore da vida que há em mim.

Jorge de Lima (1895-1953), "Invenção de Orfeu"

José Valle de Figueiredo, Antologia da Poesia Brasileira, Lisboa, Editorial Verbo, s/d, p. 175.



segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

DEIXA-ME SER FELIZ (XII)



 Cristiana Vicente Martins voltou à Biblioteca para apresentar o seu livro Deixa-me Ser Feliz. Desta vez, estiveram presentes os alunos do 12.º LH2 e a professora Ana Ribeiro. 

LVSITANIA ROMANA - ORIGEM DE DOIS POVOS




Exposição patente no Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, até junho de 2016.



DA CONCISÃO LXIX


Imagem daqui.



"Lembra-te que o conjuntivo não tem sentido excepto na forma condicional. Se alguém disser «Eu teria vencido este jogo», perguntaremos: «Se -?»

Ludwig Wittgenstein, Últimos Escritos sobre Filosofia da Psicologia, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2007, p. 53.