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Escola Secundária José Saramago - Mafra

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

SALOIOS VIII


Detalhe de um painel de azulejos da Fábrica Sant'Anna de Lisboa
Imagem daqui.


“(…). O reino saloio fica às abas de Lisboa. Uma corografia de carácter étnico teria de lhe marcar os limites, tanto a sua população de estranho particularismo a distingue, estendendo até ao seu «lácies» característico ao campo que cultiva, às casas que habita, às povoações em que se concentra. O rodar dos anos, e com ele o rodar da vida, têm-lhe diminuído o território. Sobre os influxos civilizadores que lhe vem obliterando a fisionomia em sucessivos assaltos a que os seus naturais, aliás, tem resistido com despremiada heroicidade, as regiões limítrofes mais penetráveis aos contactos da civilização foram-lhe conquistando terreno absorvendo o tipo primeiro, e descaracterizando-o depois. (…)
            No sentido norte-sul, começa em Carriche, acaba em Mafra; no sentido leste-oeste vai das povoações ao ocidente de Mafra até ao vale de São Gião no termo de Bucelas. Para lá destas linhas o saloio já está inquinado, já não é puro, já não o típico descendente da população árabe primitiva consentida, pelo conquistador de Lisboa, nos subúrbios da cidade, e que se estendeu para o norte, poente e nascente, pagando o çalaio pelo pão cozido, como contribuição compensadora da tolerância do rei; nem representa, também, o núcleo franco dos povoadores nórdicos que ao depois vieram, e com eles se cruzaram dando-lhes sobre o trigueiro rude, a mescla loira, mais nobre e pura que tão amiúde os distingue.
            O termo de Lisboa (…) foi a fixação corográfica do reino saloio. Fê-la D. João I, merceando a sua população fiel que tanto o ajudara na defesa da cidade contra os cercos de Castela.
            Vila Franca, Alenquer e Torres Vedras eram as póvoas limítrofes da região que se privilegiava. Os colonos francos e flamengos, vindos na época do povoamento (século XII e XIII) trazendo o loiro para junto do escuro, mesclaram os moçárabes afonsinos, fundaram póvoas – as vilas francas do arrabalde – e ajudaram assim à formação do tipo clássico do saloio, oscilando entre o tisnado bárbaro da África superior e o rosado loiro dos homens do norte.”

Gustavo de Matos Sequeira, “Os Saloios”, in O Concelho de Mafra, jan. 1958, apud Florilégio de Tradições do Concelho de Mafra, seleção, organização e notas de Manuel J. Gandra, Casa do Povo de Mafra, 2013, pp.365-366.


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