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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A SERPENTE E A LIMA

Azulejos do Mosteiro de São Vicente de Fora,
pormenor da Fábula de La Fontaine "A Serpente e a Lima"
Edição do Patriarcado de Lisboa, 2002, fotografia de Carlos Azevedo/ Catarina G. Ferreira
 
 
Certo relojoeiro
Duma serpente a vizinhança tinha.
(Que péssima vizinha!)
O réptil, sorrateiro,
Entra-lhe na loja, em busca de guisado,
E à mão só vê, para matar a fome,
Lima d’aço, bem rijo e temperado.
Morde-a, e, qual avestruz, quer ver se a come.
A lima, então, sem cólera falando
Diz-lhe: “estulta pareces,
Deste modo atacando
Aquilo que conheces
Ser mais rijo que tu. Antes que possa
Teu esforço um ceitil me destacar;
Antes que eu sofra a mais ligeira mossa,
Hás de as presas quebrar.
Pascácia! Eu temo só do tempo os dentes,
E não os das serpentes.”
Isto que eu disse aqui, leva endereço
Aos espíritos vis que tudo investem.
Bem que, tacanhos, para nada prestem,
Tudo mordem; têm tudo em menosprezo.
Quererdes (parvos!) amolgar co’as presas
Produções imortais do engenho humano,
É vão esforço insano,
A mais louca e irrisória das empresas!
Vossa fúria espumante
Nem a mais leve brecha lhes imprime;
Pois todas têm a têmpera sublime
Do aço fino, do bronze e diamante.
Jean de La Fontaine
 

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