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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O AMOR É PORTUGUÊS

Soror Mariana Alcoforado, Matisse (1946)
Imagem daqui.


 

“5- Da supervivência do Amor (Dom Pedro e Dona Inês)

Supervivência tanto significa intensidade, vivência superlativa, como superação da morte, vida perene.

Um mito de fatalidade amorosa, que é céltico, foi renovado, em termos trans-sociais e transcendentes, por dois amantes, um príncipe de Portugal e uma fidalga da Galiza. Sequência trágica, a dos amores entre altos personagens de uma e de outra banda do Minho (Rainha Dona Tareja – Fernão Pérez de Trava; Príncipe Dom Pedro – Dona Inês de Castro; Rainha Dona Leonor de Telles – Conde de Andeiro).

Sobremaneira fatal, irregular e trágico foi este. O príncipe, uma vez rei, desenterrou o corpo da amada, reabilitou loucamente, pomposamente, o seu amor, entronizando rainha de Portugal, com as devidas honras aquela que seu coração elegera e lhe ficara impressa para sempre no pensamento e na carne.

E nos túmulos de pedra lavrada, ao Juízo Final se entrega o mais fervoroso, o mais louco arrebatamento de todos os tempos.

A história e lenda de Inês de Castro exprime a importância absorvente que tem o amor na existência do nosso povo. Segundo D. Francisco Manuel de Melo, era notória a índole amorosa do português, e Jorge Ferreira de Vasconcelos faz dizer a uma personagem da Eufrosina que o amor é português. A poesia de amor na língua pátria é copiosa e inconfundível. Também a prosa está enxameada com documentos dessa inebriante absorção.

As expressões mais altas, mais típicas do amor português estão em D. Diniz, Camões, Bernardim, Cristóvão Falcão, Tomaz Gonzaga, Florbela, Pascoaes (elegia do amor), etc….

Tem valor para o caso a fala do Cardeal na Ceia de Júlio Dantas.

As cartas de Soror Mariana, a despeito das ressalvas que se lhes faça quanto à autoria, constituem dos testemunhos mais impressionantes do amor português.

O nosso romantismo é de raiz: por isso precede séculos o chamado movimento romântico, excedendo-o até aos nossos dias, tanto em Portugal como no Brasil.

O lema camoniano da linda Inês a cada passo renasce em nossa literatura, feito motivo perene.”

Publicado em O que é o Ideal Português, Lisboa, Edições Tempo, 1962
F. Cunha Leão, Do Homem Português, Lisboa, Guimarães Editores, 2007, p. 89.


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