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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

PORTUGUESES NO GOLFO PÉRSICO

Imagem daqui.
 

“Marco Pólo, o mercador veneziano, que chegou aos confins da Ásia, visitou duas vezes Ormuz, ponto de encontro de várias rotas comerciais na zona do Golfo Pérsico. Como sabemos, o Infante D. Pedro trouxe do seu périplo europeu um exemplar do Livro de Marco Pólo, facto que terá contribuído decisivamente (com o mapa de Fra Mauro) para a tomada de decisão de contornar a África para chegar ao Índico. O Príncipe Perfeito, no culminar da execução do Plano das Índias, enviou Afonso de Paiva e Pero da Covilhã, em 1487, respetivamente para a Etiópia e para a Índia. Na cidade do Cairo separaram-se, algures em 1488, com a combinação de se reencontrarem junto à porta da cidadela nos primeiros dias de 1491. Pero da Covilhã visitará a costa do Malabar, certificando-se das possibilidades económicas e comerciais da zona e chegado a Ormuz decidiu partir para a costa oriental de África (Melinde, Quiloa, Moçambique), fazendo um levantamento rigoroso dos pontos que Vasco da Gama irá percorrer. Em fim de janeiro de 1491, na porta da cidadela do Cairo, Pero não encontrará Afonso de Paiva, mas sim o rabino de Beja, Abraão, e um judeu português José de Lamego que o informam da morte de Paiva, vítima de peste pouco tempo antes. Pero da Covilhã entrega o seu relatório para o Rei a José de Lamego e volta a partir com o Rabi de Beja para Ormuz (sempre essa placa giratória das rotas entre o ocidente e o oriente), para seguir daí para a Etiópia, onde ficará (não se sabe ao certo se por vontade própria) e estabelecerá família, descobrindo que o reino mítico do Preste João não é poderoso nem rico. Recebeu a visita de alguns portugueses a quem deu notícias importantes. Em 1521, o embaixador D. Rodrigo de Lima encontra-o. O importante relato das suas viagens foi enviado ao padre Francisco Álvares pelo próprio Pero da Covilhã, tendo sido publicado no reino (1540) integrado na obra «Verdadeira Informação das Terras do Preste João das Índias». Mas falar de Ormuz e do Golfo Pérsico é referir Afonso de Albuquerque, com o seu génio estratégico, que considerou essa praça como ponto fundamental na conquista da entrada do Golfo Pérsico – (…) local crucial de passagem das rotas mercantis e posto estratégico na articulação entre o comércio europeu e asiático. Por aí eram escoados os produtos exóticos transportados pelas caravanas de Bassorá ou Alepo rumo ao Mediterrâneo. Em outubro de 1507, Albuquerque atacou a cidade, dominando-a. (…) João de Barros, nas Décadas da Ásia (II, II, 2), disse que «a cidade de Ormuz está situada em hua pequena ilha chamada Gerum que jaz quasi na garganta de estreito do mar Parseo tam perto da costa da terra de Persia que avera de hua a outra tres leguoas e dez da outra Arabia e terá em roda pouco mais de tres leguoas: toda muy esterele e a mayor parte hua mineira de sal e enxolfre sem naturalmente ter hum ramo ou herva verde. A cidade em sy é muy magnifica em edifícios, grossa em trato por ser hua escala onde concorrem todalas mercadorias orientaes e occidentaes a ella, e as que vem da Persia, Armenia e Tartaria que lhe jazem ao norte: de maneira que nam tendo a ilha em sy cousa própria, per carreto tem todalas estimadas do mundo /..…/ a cidade é tam viçosa e abastada, que dizem os moradores della que o mundo é hum anel e Ormuz hua pedra preciosa engastada nelle». Já quanto a Omã, fronteiro a Ormuz, o próprio Afonso de Albuquerque disse em 1507: «Mascate é uma cidade muito grande e populosa, flanqueada em ambos os lados por altas montanhas e a frente está perto da borda do mar; para trás, para o interior, há uma planície tão grande como a praça de Lisboa, toda coberta com panelas de sal. Aqui se encontram pomares, hortas, bosques de palmeiras com poços para regá-las por meio de noras e outros engenhos. O porto é pequeno, no feitio de uma ferradura e abrigado de todos os ventos». (…) O domínio do estreito de Ormuz tem de se ligar à centralidade de Goa e à presença de Malaca. E não podemos esquecer que o pensamento de Albuquerque ligava o comércio do Índico à necessidade de controlar o Mediterrâneo oriental, o Egito e a Terra Santa.”
Guilherme d’Oliveira Martins, “À Descoberta do Golfo Pérsico”, in Portugal e o Mundo: O Futuro do Passado, 8. Portugueses no Golfo Pérsico, Lisboa, Centro Nacional de Cultura, 2012, pp. 19-23.


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