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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

POESIA DE ALDA LARA

Paul Gauguin, Quando vais Casar? (« Nafea faa ipoipo?»), 1892

As Belas Meninas Pardas
 
As belas meninas pardas
são belas como as demais.
Iguais por serem meninas,
pardas por serem iguais.
 
Olham com olhos no chão.
Falam com falas macias.
Não são alegres nem tristes.
São apenas como são
todos os dias.
 
E as belas meninas pardas,
estudam muito, muitos anos.
Só estudam muito. Mais nada.
 
Que o resto, traz desenganos...
 
Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.
 
Nos passeios de domingo,
andam sempre bem trajadas.
Direitinhas. Aprumadas.
Não conhecem o sabor que tem uma gargalhada
(Parece mal rir na rua!...)

E nunca viram a lua,
debruçada sobre o rio,
às duas da madrugada.

Sabem muito escolarmente.
Sabem pouco humanamente.

E desejam, sobretudo, um casamento decente...

O mais, são histórias perdidas...
Pois que importam outras vidas?...
outras raças?..., outros mundos?...
que importam outras meninas,
felizes, ou desgraçadas?!...

As belas meninas pardas,
dão boas mães de família,
e merecem ser estimadas...

Poema publicado em 1959


Alda Lara (1930-1962) poetisa angolana. Viveu em Lisboa desde a adolescência. Frequentou a Faculdade de Medicina de Lisboa e formou-se em Coimbra. Esteve ligada a atividades da Casa dos Estudantes do Império, tendo sido igualmente colaboradora em jornais e revista de relevância na época. Teve um papel importante na divulgação de poetas africanos.



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