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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

COLÓQUIOS DOS SIMPLES

Colóquios dos simples, e drogas e coisas medicinais da Índia, obra de Garcia de Orta, publicada em Goa, há 450 anos
Imagem daqui.


 
“Interessa aqui realçar a importância de Garcia de Orta e da sua obra à luz do seu tempo e dos Descobrimentos, uma época que, graças ao destacado contributo dos Portugueses, deu a conhecer povos e lugares até então ignorados pelos europeus.
A descoberta de um mundo repleto de novidades despertou os sentidos e a curiosidade, dando origem a uma produção científica e intelectual sem precedentes na história da humanidade que alargou horizontes, fez expandir o conhecimento e marcou a passagem para a modernidade.
Nascido em Castelo de Vide em 1500, Garcia de Orta haveria de se formar em Artes, Filosofia Natural e Medicina nas Universidades de Salamanca e de Alcalá de Henares, assimilando o saber e a erudição do seu tempo. Foi essa erudição que, juntamente com a sua sede de conhecimento, levou na bagagem ao embarcar para Goa em 1534.
O livro Colóquios dos simples, e drogas e coisas medicinais da Índia, aquando da sua publicação em Goa em 1563, apresentou a primeira descrição rigorosa feita por um europeu, da origem, das características botânicas e das propriedades terapêuticas de várias plantas e drogas medicinais, até ali desconhecidas ou erradamente descritas pela ciência de então.
Mais do que o importante contributo de Garcia de Orta para o desenvolvimento da Botânica, da Farmacologia, da Medicina ou da Antropologia, importa salientar o papel pioneiro que assumiu nessas áreas do saber, graças à sua independência de espírito e objetividade, não hesitando em dar primazia à sua experiência empírica, face ao conhecimento e à autoridade dos autores clássicos que estudou.
Garcia de Orta foi, acima de tudo, um exemplo de prevalência da liberdade intelectual face ao saber preconcebido, elemento que constitui a génese e o alicerce do método e conhecimento científico. É essa prevalência da Razão que, ainda hoje, constitui o motor do progresso e da evolução das civilizações.”
António Osório, in Agenda 2013, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2012.

 
Apresentam-se alguns excertos dos Colóquios 26º - Do Gengibre, 53º - Do Tamarindo, 12º - De Duas Maneiras da Camfora, e das Carambolas, e 13º - Do Cardamomo, e das Carandas, retirados da obra Colóquios dos simples, e drogas e coisas medicinais da Índia (semana 31):
“ORTA – (…) [o gengivre] nam o ha máo se o fazem em conserva (…); e he picado com buracos para lhe entrar a agoa, e se lhe fazem isto muytos dias, e o fartam bem de açucare, he muyto bom, e nam queima, nem leixa fios na boca. (…) Trazelha, moça, á mostra.
“ORTA – (…) e fazem deste tamarindo huma muyto graciosa conserva com açucare, e he feita delle fresco e sem sal. E podeme crer que he hum digistivo e purgativo muyto bom, e muyto aprazivel ao gosto. Moça, traze cá tamarindo em conserva.
“ORTA – (…) muitas pessoas acham nellas muito sabor, em especial as que chamamos agras doces, porque estas sam hum pouquo mais azedas; fazse dellas huma conserva de açucare muito graciosa, que eu mando dar em lugar de xarope acetoso (…). Antonia traze qua huma carambola em conserva.
“ORTA – (…) Chamam-se carandas, (…) estas verdes são salgadas, e esta provisam ha nesta terra, que fazem as fruitas salgadas pera incitar o apetite no tempo que as nam ha; e tambem as lançam em vinagre e azeite, a que chamam achar; (…) E pois estes Indios buscam tantas maneiras á gulla, comei.”

 

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