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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

NATAL

Fotografia do Professor Martinho Rangel

THOMAS HARDY

A Véspera de Natal 

A véspera de Natal chegou e o grande tema de conversa em Weatherbury era a festa que Boldwood ia dar nessa noite. Não era a parcimónia de festas de Natal na paróquia que fazia desta algo de extraordinário mas, sim, o facto de Boldwood ser o anfitrião. O anúncio da festa tinha tido um impacto inusitado e incongruente, o efeito semelhante ao se alguém estivesse a jogar croquete na nave de uma catedral ou um eminente juiz subisse para cima de um palco.
Que a festa prometia ser uma onde imperaria o verdadeiro espírito jovial, disso não havia quaisquer dúvidas. Um enorme ramo de visco, que tinha sido trazido dos bosques nesse dia, estava suspenso no hall de entrada da casa do celibatário. Seguiam-se-lhe os ramos abundantes de azevinho e hera. Desde as seis horas dessa manhã até depois do meio-dia, o fogo da enorme lareira da cozinha zunia e flamejava na sua máxima potência; a chaleira, a frigideira e a caçarola de três pernas surgiam por entre as chamas como Shadrach, Meshach e Abednegro. Mais ainda, operações de assar e regar os assados com molho corriam, ininterruptamente, em frente às labaredas formidáveis. 
À medida que entardecia, acendeu-se a lareira do vasto e comprido hall no qual as escadarias desembocavam e retiraram-se todos os obstáculos para o baile. O toro que estava destinado a ser queimado nessa noite era um tronco inteiro de uma árvore, de tal forma portentoso que não podia ser nem carregado nem empurrado para o seu lugar; e, como tal, quando a hora da reunião se aproximasse, poder-se-ia observar dois homens a arrastar e a levantar o tronco com a ajuda de correias e alavancas.
Apesar disto tudo, não reinava um espírito de festa na casa. Tal feito nunca havia sido realizado anteriormente pelo seu dono e os preparativos para a festa pareciam deslocados. Toda e qualquer brincadeira acabava por redundar em algo revestido de grandiosidade e solenidade; a comunhão de todos os esforços era levada a cabo friamente por mercenários e uma sombra parecia pairar sobre as salas, lembrando que os preparativos eram tão estranhos àquele lugar como o homem solitário que ali habitava e que, como tal, não eram verdadeiros.

Far from the Madding Crowd
Traduzido por Ana Matoso


Thomas Hardy (1840-1928) romancista e poeta inglês. Passou a infância no campo. Começou a sua vida profissional como arquiteto. Após a publicação dos primeiros romances, dedicou-se exclusivamente à escrita. 
Tess of  the d' Urbervilles, adaptado ao cinema em 1979, por Roman Polanski, e Jude the Obscure são considerados clássicos da literatura. Receberam duras críticas por não se enquadrarem nos valores morais da época vitoriana. 
Far from the Madding Crowd foi o seu maior sucesso literário.

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