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Escola Secundária José Saramago - Mafra

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

LAZARILHO DE TORMES

"El Garrotillo", de Francisco Goya (1746-1828) - identificado com uma cena do Lazarilho de Tormes.
Imagem daqui.


“TRATADO I
LÁZARO CONTA A SUA VIDA E DE QUEM É FILHO
Saiba, pois, vossa mercê, antes de tudo o mais, que me chamam Lázaro de Tormes, filho de Tomé Gonçalves e de Antónia Peres, naturais de Telhares, aldeia de Salamanca. Nasci dentro do rio Tormes, pelo que dele tomei o sobrenome. E assim foi. O meu pai (que Deus lhe perdoe!) tinha o cargo de alimentar o moinho duma azenha, que há na margem daquele rio, na qual foi moleiro mais de quinze anos. E estando a minha mãe uma noite na azenha, grávida de mim, vieram-lhe as dores do parto e pariu-me ali. De modo que com verdade me posso considerar nascido no rio.
Ora, sendo eu menino de oito anos, atribuíram ao meu pai certas sangrias abusivas que apareceram nos costados dos sacos que ali levavam para moer, e por isso foi preso, e confessou e não negou, e sofreu castigo da justiça. Espero em Deus que esteja em glória, porque o Evangelho lhes chama bem-aventurados. Nesse tempo organizou-se uma expedição contra os mouros, e nela foi o meu pai, que então estava desterrado por via do desaire de que falei, com o cargo de azemeleiro de um cavaleiro que foi na expedição. E com o seu senhor, como leal criado, se extinguiu a sua vida.
Minha viúva mãe, como se visse sem marido nem amparo, decidiu encostar-se aos bons para ser um deles, e veio viver para a cidade (…)”
Lazarilho de Tormes, trad. de Arsénio Mota, coleção Os Clássicos Espanhóis, Barcelos, Livraria Civilização Editora, 1977, pp.19-20.

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