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Escola Secundária José Saramago - Mafra

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

ANTERO DE QUENTAL - Causas da Decadência dos Povos Peninsulares III

Retrato de Antero de Quental, Cruz Caldas, 1950?
 

“No princípio do século XVII quando Portugal deixa de ser contado entre as nações, e se desmorona por todos os lados a monarquia anómala, inconsistente e desnatural de Filipe II; quando a glória passada já não pode encobrir o ruinoso do edifício presente, e se afunde a Península sob o peso dos muitos erros acumulados, então aparece fraca e patente por todos os lados a nossa improcrastinável decadência. Aparece em tudo; na política, na influência, nos trabalhos da inteligência, na economia social e na indústria, e como consequência de tudo isto, nos costumes. A preponderância, que até então exercêramos nos negócios da Europa, desaparece para dar lugar à insignificância e à impotência. (…) Em Portugal, é a influência inglesa, que, por meio de cavilosos tratados, faz de nós uma espécie de colónia britânica. Ao mesmo tempo as nossas próprias colónias escapam-nos gradualmente das mãos: as Molucas passam a ser holandesas; na Índia lutam sobre os nossos despojos holandeses, ingleses e franceses; na China e no Japão desaparece a influência do nome português. Portugueses e espanhóis, vamos de século para século minguando em extensão e importância, até não sermos mais do que duas sombras, duas nações espectros, no meio dos povos que nos rodeiam!... (…) Por isso decai também a vida económica: a produção decresce, a agricultura recua, estagna-se o comércio, deperecem uma por uma as indústrias nacionais; a riqueza, uma riqueza faustosa e estéril, concentra-se em alguns pontos excepcionais, enquanto a miséria se alarga pelo resto do país: a população, dizimada pela guerra, pela emigração, pela miséria, diminui de uma maneira assustadora. Nunca povo algum absorveu tantos tesouros, ficando ao mesmo tempo tão pobre!”
Antero de Quental, Causas da Decadência dos Povos Peninsulares, discurso pronunciado na noite de 27 de maio [1871], na Sala do Casino Lisbonense, Lisboa, Guimarães Editores, 2001, pp.25-26.


1 comentário:

  1. Como está atual este texto de 1871, é de lamentar, mas é um facto!

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