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Escola Secundária José Saramago - Mafra

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

LISBOA - AL-LISHBUNA

Imagens daqui.


“Nos registos muçulmanos da época, as referências a Lisboa são escassas. Apesar de pequena, seria uma cidade importante. O cartógrafo árabe Muhammad Al-Idrisi (1110-1165) descreve-a como um lugar aprazível, protegido por um castelo e rodeado por muralhas. Mas não tinha a supremacia sobre as restantes cidades portuguesas, de que viria a usufruir depois da conquista pelos cristãos.
Olissipona foi o nome que os romanos deram, em latim bárbaro, à cidade de Ulisses, ou Ulyssippo. Os árabes «reconheceram» na partícula «ul» o equivalente ao artigo definido “al” – Al-Lixbona, e não Lixpona, porque os árabes têm dificuldade em articular a oclusiva «p», e o som que produzem é a oclusiva «b».
No tempo dos muçulmanos, que, como povo, não eram predominantemente marítimos, o porto de Alcácer do Sal teria sido rival de Lisboa. Edrisi refere em mais pormenor o seu comércio e os seus estaleiros navais. Tinha as suas vantagens sobre Lisboa, com a sua via aberta para o Alentejo, através do vale do Sado, enquanto o Tejo era um obstáculo entre Lisboa e o sudeste.
A partir dos inícios do séc. V, Lisboa viveu em clima de autarcia. A sua estrutura urbana iria alterar-se, desativando-se os antigos espaços públicos romanos e contraindo-se a população no interior das muralhas da cidade (…).
O domínio muçulmano iniciar-se-ia em 714 e prolongar-se-ia por mais de quatrocentos anos (até 1147). Não sendo uma metrópole de primeira grandeza na área do Andaluz muçulmano, era, no entanto, uma cidade de considerável importância devido à sua localização privilegiada e ao movimento portuário.
Descrita por diversos geógrafos árabes, a cidade era cercada por uma cintura de muralhas que envolvia as suas duas áreas fundamentais, também elas separadas por uma muralha: a alcáçova, onde residia a elite administrativa, religiosa e militar, a que hoje corresponde o Castelo de São Jorge, e a medina, que, pela encosta meridional do Castelo, descia até ao rio Tejo, de maior pendor civil, comercial e artesanal. No exterior das muralhas desenvolveram-se arrabaldes, de que os mais importantes foram o oriental (zona de Alfama) e o ocidental (onde hoje se situa a Baixa). (…)
Do lado oriental a muralha da cidade descia para a Bab Ash-shams (Porta do Sol, que ainda hoje se mantém na toponímia lisboeta), voltava à esquerda para a Bab al-Hama (Porta de Alfama) e depois para o Chafariz del-rei, e para o sítio onde foi construída mais tarde a Igreja da Misericórdia, subindo novamente para a Porta do Ferro. (…)
No final do tempo dos mouros, Lisboa servia sobretudo como porto de entrada e de saída para os mercadores e fabricantes de Badajoz. Como muitos destes eram judeus, isso causou o estabelecimento de agentes, seus correligionários, na cidade portuária. Lisboa concorria assim com Alcácer do Sal. (…)
Os judeus vieram para Lisboa relativamente tarde e não puderam instalar-se dentro da cidade murada. Primeiro criaram um pequeno bairro entre os atuais Arco do Rosário e o Largo de S. Rafael. A rua, que ainda hoje se chama da Judiaria, ficava situada junto à muralha da cidade, mas, como o sítio da rua do Terreiro do Trigo estava coberto, nessa altura, pelas águas do Tejo, quando a comuna já não cabia no antigo bairro, teve que construir outro.
Como era habitual, a comuna escolheu um sítio no extremo da área habitada, a ocidente da cidade, no coração da presente Baixa, que manteve por muitas gerações e era conhecida por «Judiaria Velha» ou «Judiaria Grande» (…)
O emaranhado de ruas estreitas e curvas da judiaria velha desapareceu quando Lisboa foi destruída pelo terramoto de 1755 e a parte baixa da cidade foi reconstruída.
Em numerosos documentos da parte final da Idade Média figuram os nomes das ruas da judiaria, denunciando especificamente as ocupações dos judeus de Lisboa nesses tempos remotos.”
Inácio Steinhardt, Raízes dos Judeus em Portugal entre Godos e Sarracenos, Coleção Sefarad, Lisboa, Nova Vega, 2012, pp. 142-144.

2 comentários:

  1. Peço licença para fazer uma rectificação ao que escrevi no meu livro «Raizes dos Judeus em Portugal»
    Depois de ler o meu livro, o meu amigo professor Herman Prins Salomon, que estudou o assunto do nome de Lisboa, esclareceu-me que afinal o nome Ulissipone para Lisboa é uma invencao latinista do Renascimento; nunca existiu tal nome antes do s. XVI.
    O nome de Lisboa, segundo ele, vem do árabe Al-Isbona (assim o escreve tambem o Abravanel) e significa em arabe: O Porto.

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