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Escola Secundária José Saramago - Mafra

terça-feira, 7 de agosto de 2012

A FORMOSA LUSITÂNIA EM 1873

Imagem daqui.
"Um passeio em Portugal, se o viajante ignora a língua, escasso aproveitamento ou prazer lhe proporciona. Imaginar, como bastante gente imagina, que não há nada a lucrar com o conhecimento do idioma português, é erro fundado em mero preconceito, porque as cidades de Portugal encerram interessantes memórias do passado, que merecem mais atenção do que até hoje têm atraído. Há ali grande número de escritores talentosos, quer antigos quer modernos, historiadores, escritores científicos, dramaturgos, vigorosos romancistas e outros autores, que encantam com a elegância e graça do estilo, fantasia poética, espírito e vivacidade que reluz em suas obras. E hoje em dia, que mais luminosas investigações elucidaram os documentos das eras passadas e corrigiram erros que a história transmitira, os arquivos nacionais de um povo que já foi a primeira entre as nações, por navegações, descobrimentos e conquistas na Índia, com monarcas famosos por ilustração, magnificência e incentivo às artes, ou belicosas façanhas, devem necessariamente ser interessantíssimos e por nenhuma maneira desdenhados.
Ai! Amesquinhado Portugal! Como é que um país tão belo, cuja capital é a segunda em formosura entre as cidades da Europa, cujo povo é tão policiado, bondoso, hospitaleiro, (…), seja enxovalhado, como acontece, pelo restante mundo, e considerado menos valioso e interessante dos reinos da Europa? Por que não vão ali os nossos artistas em busca de inspirações novas para o seu pincel? Por que as não procuram na Formosa Lusitânia, nas encantadoras margens do Minho, nas alpestres belezas das ribas do Douro, do Tejo e do Mondego? Os nossos viajantes, aborrecidos das estradas chãs, e das paisagens que por toda a parte parecem as mesmas, por que não se embrenham por aqueles sertões alcantilados? Se o fizerem, decerto serão liberalmente recompensados. A perspectiva tem encantos de originalidade e frescura variadíssimos: serranias escarpadas, profundas barrocas, grandes ladeiras de arvoredo e matagal, bosques de castanheiros e extensos sobreirais, olivedos, laranjais e limoeiros de lustrosa folhagem, compridas latadas afestoadas de parras, montes fragosos com as cristas verdejantes de arbustos, ramarias de variado colorido desde o opaco das sombras até ao verde mais suave; vastas penedias vestidas de musgo, ruínas pitorescas de castelos mouriscos e mosteiros góticos, rápidos córregos por entre curvos salgueirais, orlados de aromáticos relvedos. De quase todas as eminências, algumas léguas sertão dentro, podem avistar-se aspérrimas ribas do mar com as suas arenosas baías ou enseadas; ao longe, a infinda amplidão do Atlântico, e as suas ondas, agora cintilantes com um colorido de opala quando refrangem os raios solares, logo toucadas de espuma, rugindo estridorosamente a quebrarem-se em furiosas catadupas de encontro à cinta dos penhascos, a dissolverem-se em milhares de fantásticas figurações."
Lady Jackson, A Formosa Lusitânia – Portugal em 1873, Tradução e Notas de Camilo Castelo Branco, Casal de Cambra, edição Caleidoscópio, 2007, pp. 10-11.

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