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Escola Secundária José Saramago - Mafra

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

JOÃO GUIMARÃES ROSA ou a reinvenção da língua



João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, Minas Gerais, no dia 27 de junho de 1908 e faleceu em 1967, no Rio de Janeiro. Formou-se em Medicina e mais tarde foi diplomata. Poliglota, falava alemão, francês, espanhol, inglês, italiano e russo.

Recebeu pelo conjunto da sua obra o Prémio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, para a qual, posteriormente, seria eleito membro, por unanimidade.

Ficam alguns excertos daquela que é, porventura, a sua obra mais importante - Grande Sertão, Veredas, (1956), Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 36ª edição, 1988. Riobaldo narra:

O senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão. E, outra coisa: o diabo, é às brutas; mas Deus é traiçoeiro! Ah, uma beleza de traiçoeiro - dá gosto! A força dele, quando quer - moço! - me dá o medo pavor! Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do mansinho - assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza. A pois: um dia, num curtume, a faquinha minha que eu tinha caiu dentro de um tanque, só caldo de casca a curtir, barbatimão, angico, lá sei. - "Amanhã eu tiro..." - falei, comigo. Porque era de noite, luz nenhuma eu não disputava. Ah, então, saiba: no outro dia, cedo, a faca, o ferro dela, estava sido roído, quase por metade, por aquela aguinha escura, toda quieta. Deixei, para mais ver. Estala, espoleta! Sabe o que foi? Pois, nessa mesma da tarde, aí: da faquinha só se achava o cabo... O cabo - por não ser de frio metal, mas de chifre de galheiro. Aí está: Deus... Bem, o senhor ouviu, o que ouviu sabe, o que sabe me entende... (p. 15)

Como vou contar, e o senhor sentir em meu estado? O senhor sobrenasceu lá? O senhor mordeu aquilo? O senhor conheceu Diadorim, meu senhor?!... (...) Querer mil gritar, e não pude, desmim de mim-mesmo, me tonteava, numas ânsias. E tinha o inferno daquela rua, para encurralar comprido... Tiraram minha voz.(pp. 524-526)

O senhor não repare. Demore, que eu conto. A vida da gente nunca tem termo real. (p. 530)


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